O Perito Avaliador “Cartomante”

Um Fenômeno Curioso no Mercado Imobiliário
O Brasil está repleto de “avaliadores” de imóveis — muitos deles sem perceber que, na prática, estão exercendo informalmente essa função.
O primeiro avaliador é quase sempre o proprietário. Convencido de conhecer perfeitamente o valor do seu imóvel, ele costuma chegar ao potencial comprador afirmando não só o preço que deseja, mas também o quanto pagou e tudo o que acredita agregar valor: lembranças pessoais, histórias de família e até eventos pitorescos que, para ele, justificam um valor mais elevado.
O segundo avaliador é o vizinho — um verdadeiro “assistente técnico espontâneo”. Ao saber do preço pedido, frequentemente se apressa em dizer que o imóvel “não vale nem metade”, espalhando sua opinião para o bairro inteiro e colocando o proprietário em dúvida sobre seu próprio anúncio.
A terceira avaliadora, muitas vezes, é a sogra, atenta à venda para garantir que sua filha não seja prejudicada em eventual processo de separação.
Mas ainda existe mais um personagem nessa lista:
O avaliador “cartomante”.
Com todo respeito à metáfora, trata-se daquele profissional que se apresenta como “expert” e promete avaliações em poucos minutos. São avaliações rápidas, superficiais e, principalmente, sem valor jurídico — motivo pelo qual jamais são aceitas em processos judiciais ou administrativos. Por mais curioso que pareça, esse tipo de avaliação ainda existe, embora não atenda a nenhum requisito normativo.
E, afinal, do que adianta produzir um parecer que não possui validade legal e não observa os procedimentos exigidos pela legislação e pelas normas técnicas da ABNT?
Para uma avaliação profissional, com rigor técnico e plena eficácia jurídica, alguns cuidados são indispensáveis:
- Contrate um profissional habilitado. Avaliação imobiliária não é atividade para adivinhação. Procure corretores de imóveis, engenheiros, arquitetos ou demais profissionais legalmente habilitados para esta função.
- Verifique experiência e capacitação. Assim como o Poder Judiciário exige comprovação de habilitação e experiência para cadastro de peritos, o contratante também deve avaliar o histórico profissional do avaliador. Ter habilitação não significa, por si só, possuir domínio técnico. A experiência faz diferença na precisão do valor atribuído ao imóvel.
- Entenda que boas avaliações levam tempo. Um laudo técnico exige análise documental, vistoria detalhada, coleta de amostras de mercado, confirmação de informações com ofertantes, tratamento estatístico e justificativas fundamentadas. Esse processo não se realiza em minutos.
- Reconheça o valor do trabalho técnico. Laudos e pareceres sérios podem ter entre 40 e 80 páginas, repletas de fundamentação normativa, técnica e científica. Ao contrário do “avaliador cartomante”, o perito profissional coloca sua reputação em jogo e se mantém em constante atualização.
Portanto, a conclusão é simples:
Se você procura uma avaliação “instantânea”, basta jogar uma tampinha para o alto — certamente cairá perto de alguém disposto a fazê-la.
Mas, se você busca segurança, validade jurídica e rigor técnico, encontre um perito avaliador imobiliário profissional. Quando encontrar um, valorize-o. Assim como temos “o meu dentista” ou “o meu advogado”, é chegada a hora de reconhecer também o meu perito avaliador imobiliário.
Autor: Fernando de Queiroz
Professor, Advogado e Perito Avaliador
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